sexta-feira, 26 de março de 2021

IAPERI SOARES DE ARAÚJO

 


IAPERI SOARES DE ARAÚJO (SÃO VICENTE RN 21/07/1946)

Desenhista, gravador, crítico de arte, escritor, contista e poeta.

Formado em medicina, representa na sua obra artística os milagres, os contos, as relíquias da devoção popular. Em Natal, trabalha como crítico de arte e colunista do Diário de Natal.  Escreve vários ensaios, como Elementos da Arte Popular, Uma Pintora Popular e Maria Santíssimo, obras publicadas entre 1966 e 1986.  É co-autor de Brasil-Arte Nordeste.  A partir de meados da década de 60, participa de várias mostras no Brasil e, em 1991, expõe na Alemanha.

CRÍTICAS

"Em tudo que faz, Iaperi guarda o sentimento da terra, os valores das tradições populares, mitos, alumbramentos. Médico, Iaperi amplia sua área de atividade escrevendo sobre medicina popular numa mesma coerência norteadora da sua cultura abrangente. Escritor, revela-se o poeta das canções do povo numa recriação de velhos temas das tradições orais. Pintor, valoriza os milagres, os contos, as relíquias da devoção popular, com quadros miniaturados, narrativos de promessas e graças alcaçadas. Conhecedor da cultura do povo, dela nunca se afastando, Iaperi desenvolve toda a sua temática, toda a sua potencialidade na apreensão das vertentes desta cultura rica em imagística, surpreendente na sua milenar transmissão de verdades, gênese da sua própria formação. (...) Na pintura a óleo, registra os milagres não só como pintor, mas vai além, contando o ´causo´ do milagre, a 'graça' alcançada, através da palavra, post/escrito, notícia, confirmação, constatação".
Dorian Gray Caldas
CALDAS, Dorian Gray. Artes plásticas do Rio Grande do Norte: 1920-1989. Apresentação de Daladier Pessoa Cunha Lima. Natal: UFRN: FUNPEC: SESC: 1989.

EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS

1965 - Natal RN - Individual, na Galeria de Artes de Natal
1967 - Natal RN - Individual, na Galeria L'Atelier
1967 - Natal RN - Individual - Fundação José Augusto, no Museu do Sobradinho
1969 - Natal RN - Individual, na Galeria de Artes Villa Flor
1980 - Natal RN - Individual, na Galeria de Artes da Biblioteca Pública Câmara Cascudo
1981 - Natal RN - Os Milagres do Povo Brasileiro, na Galeria de Artes da Biblioteca Pública Câmara Cascudo
1985 - Natal RN - Viva o Nordeste Brasileiro, na Galeria de Artes da Biblioteca Pública Câmara Cascudo
1985 - Macau RN - Devoções Populares, na Biblioteca Pública de Macau
1994 - Natal RN - Vinte Estandartes da Literatura Popular, na Galeria de Artes da Biblioteca Pública Câmara Cascudo
1994 - Natal RN - Valei-me São Sebastião, na Galeria de Artes da Biblioteca Pública Câmara Cascudo
1998 - Natal RN - O Mensageiro del Rey, na Galeria de Artes da Capitania das Artes

EXPOSIÇÕES COLETIVAS

1963 - Natal RN - 1ª Exposição de Poesia Ilustrada, na Galeria de Artes de Natal
1964 - Natal RN - Dez Pintores no Natal da Cidade, na Galeria de Artes de Natal
1965 - Natal RN - Coletiva de Pintura Universitária - 1º Festival de Cultura Universitária, no Palácio dos Esportes
1966 - Natal RN - 1ª Feira de Artes Norte-Rio-Grandense, no Museu do Sobradinho - medalha de prata/gravura
1966 - Natal RN - Coletiva de Inauguração do Museu de Arte Popular do Forte dos Reis Magos - Fundação José Augusto
1966 - Natal RN - 1ª Exposição Norte-Rio-Grandense de Gravuras, no Museu do Sobradinho
1966 - Rio de Janeiro RJ - 1º Salão Nacional de Artes Plásticas
1966 - Vitória ES - 1º Salão Nacional de Arte Moderna de Vitória - representação oficial do Rio Grande do Norte
1967 - Natal RN - Arte Norte-Rio-Grandense no Sobradinho - Fundação José Augusto, no Museu do Sobradinho
1967 - Natal RN - Explo 02 - Arte/Processo, no Museu do Sobradinho
1968 - Rio de Janeiro RJ - O Retrato de Carolina, no MIS/RJ
1968 - São Paulo SP - 1ª Exposição Internacional de Gravuras, Faap
1969 - Recife PE - Artistas Potiguares, na Galeria Detalhe
1969 - Natal RN - Exposição de Gravuras, na Biblioteca Pública do Estado
1972 - Natal RN - Exposição Comemorativa do Sesquicentenário da Independência do Brasil, na Biblioteca Pública Câmara Cascudo - medalha de prata
1974 - Natal RN - Bienal Estadual de Pintura
1975 - Natal RN - Coletiva de Artistas Potiguares, no Circo da Cultura da Fundação José Augusto
1976 - Natal RN - Panorama das Artes Plásticas do Rio Grande do Norte, no Hotel dos Reis Magos
1977 - Florianópolis SC - 1ª Exposição Nacional de Pintores Médicos, na Assembléia Legislativa do Estado - medalha de prata/gravura
1978 - Natal RN - Exposição das Artes Plásticas do Rio Grande do Norte, no Sesc
1979 - Natal RN - 1ª Semana de Cultura Nordestina, no Teatro Alberto Maranhão
1980 - Natal RN - Mostra, na Biblioteca Pública Câmara Cascudo
1981 - Natal RN - Os Milagres do Povo Brasileiro, na Biblioteca Pública Câmara Cascudo
1982 - Natal RN - Nove Temas da Literatura Popular e Tragédias da Vida, na Galeria Convivart
1984 - Natal RN - 1º Salão de Pintores Primitivos, na Galeria do Atelier Dorian Gray
1984 - Natal RN - 26 Pintores Norte-Rio-Grandenses - Galeria Convivart, no Campus Universitário de Natal
1984 - Assis SP - Coletiva, no Museu de Arte Primitiva José Nazareno Miméssi
1985 - Natal RN - Viva o Nordeste Brasileiro, na Biblioteca Pública Câmara Cascudo
1985 - Natal RN - O Rio Grande do Norte Visto por Seus Artistas - Galeria Convivart, no Campus Universitário de Natal
1985 - Natal RN - 1º Salão de Artes Plásticas do Rio Grande do Norte, na Biblioteca Pública Câmara Cascudo - Prêmio Anna Quadros de Pintura Primitiva
1985 - Assis SP - Exposição Comemorativa do 2º Aniversário do Museu de Arte Primitiva José Nazareno Miméssi
1986 - Natal RN - 12 Artistas do Rio Grande do Norte - Fundação José Augusto, na Galeria da Biblioteca Pública Câmara Cascudo
1986 - Natal RN - Marinha, na Galeria da Biblioteca Pública Câmara Cascudo - menção honrosa
1987 - Natal RN - Caminhos Atuais da Pintura Norte-Rio-Grandense, na Galeria de Arte Antiga e Contemporânea
1987 - Rio de Janeiro RJ - Pintores Norte-Rio-Grandenses, na ABL
1989 - Natal RN - Semana do Folclore, na Galeria da Secretaria Municipal de Cultura
1989 - Natal RN - Natal por Seus Artistas, na Galeria da Biblioteca Pública Câmara Cascudo
1989 - Natal RN - A Via Sacra, na Catedral Metropolitana de Natal
1990 - Natal RN - Salão Global de Artistas Plásticos do Rio Grande do Norte, no Centro de Convenções de Natal
1990 - Natal RN - Santeiros, na Galeria da Fundação Hélio Galvão
1991 - Natal RN - Cangaço, na Galeria da Fundação Hélio Galvão
1991 - Tübingen (Alemanha) - Kunstsammlung Von Brasilianisclies Kunstler
1992 - Natal RN - Coletiva, na Galeria Babilônia
1992 - Natal RN - América 500 Anos, no Teatro Alberto Maranhão
1992 - Mossoró RN - Arte Primitiva - 4º Fórum Cultural de Mossoró
1993 - Goiânia GO - Viva Goiás na Arte Popular, na Galeria de Artes Sebastião Reis
1993 - Natal RN - Bandeiras de São João, na Galeria da Biblioteca Pública Câmara Cascudo
1994 - Piracicaba SP - 2ª Bienal Brasileira de Arte Naif, no Sesc/Piracicaba - sala especial
1994 - Natal RN - 1º Festival de Miniquadros, na Galeria Taba
1994 - Natal RN - Uma Visão Plástica de Natal - Galeria Convivart, no Campus Universitário de Natal
1998 - Piracicaba SP - 4ª Bienal Naifs do Brasil, no Sesc/Piracicaba
1998 - Natal RN - Salão de Artes de Natal, na Galeria da Capitania das Artes -menção honrosa
1999 - Natal RN - Uma Visão Plástica de Natal, na Galeria da Capitania das Artes
2002 - Piracicaba SP - 6ª Bienal Naifs do Brasil, no Sesc/Piracicaba

FONTE: ITAÚ CULTURAL

IAPERI SOARES DE ARAÚJO



RETRATO FALADO DE IAPERI ARAUJO

 

*FRANKLIN JORGE

Medico obstetra e professor aposentado da UFRN, membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras e do Conselho de Cultura, Iaperi é artistas plástico e escritor de grande talento, tendo criado uma linguagem estética própria sintetizada de seu grande conhecimento da Cultura Popular. E colaborador de Navegos e dos projetos de seu Fundador, todos voltados para a valorização da Cultura Potiguar.

leitor@navegos.com.br

Quando nasceu?

Nasci em 21 de julho de 1946.

Onde?

Em São Vicente, então município de Florânia, vez que somente em 1953 foi elevado a município.

Como se cham seus pais?

Joaquim Araújo Filho e Milka Soares de Araújo

O que herdou de seu pai?

Herdei do meu pai o amor à cultura popular, aos saberes e fazeres do povo. Eu era muito curioso e conversava com ele toda a tarde na área de nossa casa da rua Açu, perguntando sobre coisas do sertão, as formas de plantio, os sinais dos tempos, a cultura do povo. Ele sempre nos ensinou que por mais humildes que fossem os brincantes a gente deveria sempre respeitá-los. Por isso quando cantadores de feira, palhaços de circos, trapezistas e bailarinas, ceguinhos que entoavam canções nas feiras, ciganos com seus rituais se apresentavam em SV, a gente era elogiado pois os respeitava, quando a meninada do lugar levava na troça. Meu pai me ensinou principalmente o valor do trabalho e a honestidade na vida.

E de sua mãe?

Minha mãe, apesar de ter nascido e vivido até os 20 anos em Natal, conhecia tudo da vida seridoense. a medicina rústica, os hábitos tradicionais, as comidas seridoenses que ela sabia fazer com esmero e perfeição. E sempre curioso ficava junto e perguntando até ela perder a paciência e expulsar a gente da cozinha. Era uma disciplinadora. Cuidar de 12 filhos, educando-os (ela era professora), inclusive a chamada educação doméstica (banho, cuidado com os cabelos, lavar as mãos para refeições, esperar meu pai servir-se primeiro, andar calçado),as lições da escola e o direito a escolher que profissão queria ter. Nunca influenciou nossa vocação, nem muito menos criou obstáculo para ser o que quiséssemos ser. Queria apenas que todos estudassem e obtivessem pelo seu esforço uma profissão digna. Incrível como ela tinha uma profunda sabedoria das coisas do sertão. Eu a chamava minha enciclopédia particular. A genealogia, os costumes, o vestuário, as festas. Tudo sabia e quando estava de bem, tinha paciência para explicar. Desde receitas de bolo, até fabricar produtos domésticos. Claro que essas coisas mais ligadas aos fazeres “das mulheres” ela reclamava nossa curiosidade, mas ensinava.

Quem e vc?

Já disse uma vez que sou um menino de São Vicente que sempre quis ser médico apesar de na minha infância nunca ter visto um, nem ouvido falar. Mesmo assim fui o púnico dos 12 filhos a nascer pelas mãos de um médico, Doutor Ramalho, pai da ex-primeira-dama dona Aída Cortez, que ocasionalmente estava alí quando nasci. Não haviam complicações anunciadas para chamar um médico. Todos os 7 antes de mim havia nascido por parteira. Dr. Ramalho foi meu padrinho de batismo com sua esposa dona Odete como madrinha. Depois, quando tinha uns 9 anos cai de um coqueiro com trauma da coluna e foram buscar dr. Mariano Coelho em Currais Novos. Por conta dessa predestinação, num sonho, meio sonho, meio acordado, no meio da noite vi um anjo de luz, que me disse que meu lema era “Não escolhi,fui escolhido” que padre Nunes traduziu para mim: “Non elegi, electus fuit” e que transformei no meu ex-libris. Guardo esse menino de São Vicente nas minhas memórias, no rescaldo de minhas vivencias e tento ser como ele, um homem que busca entender os saberes e fazeres do povo para guardar minhas raízes culturais e enfatizá-las.

De-me fatos para esclarecimento de heranças?

Os fatos são esses. A vivencia no sertão do Seridó, com um pai que era uma figura paterna, sem grande envolvimento na nossa educação, mas com uma forte vigilancia nos caminhos que a gente trilhava. Do quinto filho em diante (eu fui o 8º)  não mais castigou os filhos. Deixava esse “serviço pesado” para nossa mãe. É que no primogênito, foi castigá-lo com o cinturão e pegou o cinto pela ponta e ao bater em Iaponan, a fivela do cinto bateu em seu supercilio, fazendo um pequeno corte que sangrou. Pai jogou o cinto fora e disse que nunca mais tiraria sangue de um filho. Nós os seguintes da fila, aproveitamos a anistia e “pintávamos o sete” com seu beneplácito. Essa herança recebeu reforços das conversas de comadre de minha mãe, que a gente escutava escondido e pelas estórias de Trancoso na calçada de Sinhá Joana, uma espécie de Scherazade sertaneja que nas nossas férias e por 30 noites, contava maravilhosas estórias de príncipes e princesas, animais fantásticos e bichos fabulosos, enchendo nossa mente com o armorial sertanejo, sempre terminando com um “entrou pela perna do pinto, saiu pela perna do pato…”

E sua infância?

A infância em São Vicente e Currais Novos, depois a adolescência em Natal foram muito ricas em conhecimentos, em brincadeiras de jogar bola de meia velha, brincar de índio com varas de cercado de galinhas como flechas, ter um curral no quintal de casa com bois de ossos, para brincar permanentemente de fazendeiro, brincar de pastoril, ser anjo na coroação de Maria na igreja de São Vicente que meu pai construiu, ser pajem da imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima em Currais Novos, com roupas à maneira da guarda suíça do Vaticano,  encenar peças de teatro que a gente inventava os textos, roubar mangas e frutas do quintal de Dr. Atila na rua Jundiaí ou no de  Edgar Barbosa na rua Prudente de Morais, assistir e aplaudir os brincantes se apresentando no cruzamento da Ulisses Caldas com a avenida Rio Branco no tempo de Djalma Maranhão e ficar sem folego e extasiado, vendo a nau Catarine, descendo a Rio Branco, navegando num mar de gente. “Ó tão linda”.

Quando deixou sua terra?

Nunca deixei minha terra. Ela está sempre dentro de mim, especialmente as estórias de Sinhá Joana, a ingenuidade de Maria do Santíssimo, trancada na camarinha com um candeeiro a querosene a iluminar suas pinturas que ela criava contando as estórias de cada um. Ouvindo estórias de vaqueiros e lobisomens. Aos 5/6 anos mudamos para Currais Novos e aos 10 para Natal. Meu pai não se desligou do sertão. Lá tínhamos a casa onde nasci e os sítios de herança feudal. Ainda temos. Papai que morreu jovem aos 62 anos ia semanalmente a São Vicente cuidar dos seus negócios. Trazia a feiras “grosseira”. Sacos de 60 quilos de arroz natural, feijão, farinha, açúcar bruto e carne de sol. Dos sítios trazia os cajás, os limões, os cocos secos, a goma, algum queijo. Da granja em Natal, as frutas. Tudo isso permanece vivo em minha memória e na minha vida.

Que coisas tem feito?

Um pouco de tudo. isso é o que a psiquiatria chama de hiperatividade. Pinto, escrevo e ainda exerço a Medicina. Fui durante 42 anos de atividade como Obstetra, um profissional respeitado no Brasil. Por ser Presidente da Sociedade de Especialidade no Estado e da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, participei como palestrante em mais de 300 Congressos e Jornadas, como convidado. Fiz a conferencia de abertura de alguns, o que é uma das maiores homenagens que um médico pode receber. Não é prá todo mundo. Fui membro do advisor Comitee do Congresso Mundial de Ginecologia/Obstetrícia no Rio de Janeiro. Deixei tudo por uma decepção com a especialidade. Hoje sou apenas um médico do Trabalho com Registro de Especialidade no Conselho Regional de Medicina. Os milhares de partos naturais, a luta pela humanização do parto que me colocou como contemporâneo de Leboyer com seu “Nascer sorrindo”, pois há registro que em 1974 os partos naturais que fazia obedeciam a cuidados que depois Leboyer divulgou para o mundo.  Fiz o roteiro de um documentário sobre a presença de Lampião no Estado, dirigido por Silvio Coutinho, exibido no Cine Sol da Prefeitura de Natal. Registrei na Biblioteca Nacional, devidamente autorizado pelo autor  o roteiro de ALVOROÇO, baseado num romance de Racine Santos que deverá ser rodado em Natal no próximo ano com direção de José Joffily, além de outros 10 roteiros, incluindo um sobre o dia em Tyrone Power esteve em Natal baseado num conto de Geraldo Edson e outro BOA MARIA BOA que minha empresária Rossana Ghessa está doida para estrelar. Mas… seja o que o tempo e a criatividade me concederem, enquanto dr. Alzheimer não chegar. Amém.

FONTE - NAVEGOS

Quem sou eu

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O HOMEM DE BOM CARÁTER DESPREZA A FALSIDADE

IAPERI SOARES DE ARAÚJO

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